domingo, 2 de novembro de 2014

Histórico de Domingos Sávio

Domingos Sávio Menezes Carneiro nasceu no município de Barreiros, na zona da mata sul pernambucana, no dia 5 de julho de 1961. Desde criança demonstrava sinais de gosto pela arte, tendo no cotidiano inspirações para seus desenhos. Foi alfabetizado em sua residência pela mãe e sempre teve o apoio da família para desenhar. O artista recorda: "Minha primeira infância, como filho caçula de uma grande e sólida família, foi vivida no campo, num antigo engenho cujo nome atiça bastante o imaginário: Serra D’água. A firmeza de uma serra feita da insustentabilidade da água". Com o passar dos anos suas obras foram ganhando mais complexidade e senso crítico.

A produção artística de Domingos Sávio mostra  versatilidade e riqueza de detalhes, chamando atenção o seu traço preciso e sua ousadia no manuseio de variadas técnicas e materiais, principalmente nas criações de grandes painéis temáticos. 

O ato de escrever aparece como outro talento do artista que em suas palavras descreve: "Sempre aproximei a escrita do exercício da pintura. Procurava dar aos textos um tratamento estético que nascia lenta e dolorosamente da cabeça e das mãos". Domingos define sua obra tanto em termos técnico-artísticos como intuitivos: "Não possuo nenhuma formação acadêmica. Sou um autodidata e um observador atento do trabalho dos outros artistas, mestres ou não. Nesse sentido, carrego influências diversas e imprecisas. Faço de cada experiência, uma obra e de cada obra, uma experiência". 

Em 1984, depois de uma curta experiência como desenhista publicitário em Recife, ingressou na Ordem dos Frades Menores abraçando a Vida Religiosa Consagrada. A partir da entrada na vida religiosa e em contato com a Teologia da Libertação, fez da temática social uma constante no seu trabalho. "Passei a ser um ilustrador de intuições e “gritos de guerra” para muitos Movimentos Populares, Pastorais e ONGs espalhados pelo Brasil. Os trabalhos são em geral de cunho pedagógico ou promocional",  afirma Domingos.

No 6º Encontro Intereclesial de CEB’s, ocorrido em 1986 em Trindade - Goiás, Domingos participou da fundação do MARCA - Movimento dos Artistas da Caminhada - reunindo artistas de várias partes do Brasil e de diversas áreas das artes. Em suas palavras "o MARCA caracteriza-se pelo seu engajamento sócio-político, numa perspectiva transformadora". Em 1992, o grupo foi convidado, pela primeira vez, por uma Associação do norte da Itália chamada Ca’Fornelette, para participar de encontros e oficinas, em um intercâmbio de convívio cultural entre os artistas brasileiros e os mais diversos grupos italianos. Assim o trabalho do artista pernambucano chega à Europa, para onde retornou nos anos 1993 e 2007. 

A CEHILA (Comissão de Estudos de História da Igreja na América Latina) foi a oportunidade que Domingos teve como artista plástico de conhecer outras culturas da América Latina e enriquecer doravante as suas obras (México 1990 e 1996;  Perú 1994; Guatemala 1996).  "Consegui conciliar a vida artística e religiosa. Meu apostolado sempre foi a arte", declara Domingos.

Parte do seu acervo está salvaguardado em São Paulo, onde participou durante 12 anos não consecutivos (de 1988 a 2001) do Curso de Verão do CESEP realizado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde produziu e criou coletivamente os painéis temáticos dos encontros. A arte era pensada de acordo com o tema proposto a cada ano e decidida pelo conjunto de artistas que a produziam, destacando presenças constantes de artistas plasticos como Adélia Carvalho, Anderson, Helda Broilo e Fernando Marinho, entre outros. Sua contribuição era realizada também através de intervenções artísticas como caricaturas, charges e tirinhas. O Curso de Verão, promovido pelo CESEP (Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e à Educação Popular), é um espaço de formação  e partilha de experiências que acontece anualmente, no mês de janeiro, nas dependências da PUC/SP. O curso tem o reconhecimento do Ministério de Educação e Cultura (MEC) e aborda temáticas através de uma metodologia participativa nas diversas oficinas oferecidas.

Domingos teve que parar de pintar devido à perda dos movimentos da mão direita quando completou 30 anos, época em que se descobriu portador de uma doença degenerativa rara chamada Siringomielia. A doença é caracterizada por uma lesão cística na medula que faz o paciente perder gradativamente os movimentos corporais. Ainda tentou adaptar-se a trabalhar com a mão esquerda, mas essa também já se encontrava bastante comprometida. Limitado, sem condições de expressar seu talento pela pintura e desenhos, ele investe na escrita como uma nova maneira de se expressar, fazendo dos fatos cotidianos sua maior fonte de inspiração. "O processo de escrever é prazeroso, é uma arte, é compor harmonicamente", afirma Domingos. Muito autocrítico, acrescenta: "o maior crítico do artista deve ser ele mesmo".


A exposição sobre Domingos Sávio tem como objetivo  mostrar a trajetória de vida e o legado desse artista pernambucano, que com uma quantidade razoável de obras espalhadas pelo Brasil e pelo mundo encanta com sua perspicácia e ousadia na representação sócio- cultural do Brasil. Além disso, objetiva apresentar o lado poético, cronista e caricaturista do artista, revelados em tirinhas, textos, composições resgatadas de seu acervo pessoal.

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