Domingos Sávio Menezes Carneiro
nasceu no município de Barreiros, na zona da mata sul pernambucana, no dia 5 de
julho de 1961. Desde criança demonstrava sinais de gosto pela arte, tendo no
cotidiano inspirações para seus desenhos. Foi alfabetizado em sua residência
pela mãe e sempre teve o apoio da família para desenhar. O artista recorda:
"Minha primeira infância, como filho caçula de uma grande e sólida
família, foi vivida no campo, num antigo engenho cujo nome atiça bastante o
imaginário: Serra D’água. A firmeza de uma serra feita da insustentabilidade da
água". Com o passar dos anos suas obras foram ganhando mais complexidade e
senso crítico.
A produção artística de Domingos
Sávio mostra versatilidade e riqueza de
detalhes, chamando atenção o seu traço preciso e sua ousadia no manuseio de
variadas técnicas e materiais, principalmente nas criações de grandes painéis
temáticos.
O ato de escrever aparece como
outro talento do artista que em suas palavras descreve: "Sempre aproximei
a escrita do exercício da pintura. Procurava dar aos textos um tratamento
estético que nascia lenta e dolorosamente da cabeça e das mãos". Domingos
define sua obra tanto em termos técnico-artísticos como intuitivos: "Não
possuo nenhuma formação acadêmica. Sou um autodidata e um observador atento do
trabalho dos outros artistas, mestres ou não. Nesse sentido, carrego
influências diversas e imprecisas. Faço de cada experiência, uma obra e de cada
obra, uma experiência".
Em 1984, depois de uma curta
experiência como desenhista publicitário em Recife, ingressou na Ordem dos
Frades Menores abraçando a Vida Religiosa Consagrada. A partir da entrada na
vida religiosa e em contato com a Teologia da Libertação, fez da temática
social uma constante no seu trabalho. "Passei a ser um ilustrador de
intuições e “gritos de guerra” para muitos Movimentos Populares, Pastorais e
ONGs espalhados pelo Brasil. Os trabalhos são em geral de cunho pedagógico ou
promocional", afirma Domingos.
No 6º Encontro Intereclesial de
CEB’s, ocorrido em 1986 em Trindade - Goiás, Domingos participou da fundação do
MARCA - Movimento dos Artistas da Caminhada - reunindo artistas de várias
partes do Brasil e de diversas áreas das artes. Em suas palavras "o MARCA
caracteriza-se pelo seu engajamento sócio-político, numa perspectiva
transformadora". Em 1992, o grupo foi convidado, pela primeira vez, por
uma Associação do norte da Itália chamada Ca’Fornelette, para participar de
encontros e oficinas, em um intercâmbio de convívio cultural entre os artistas
brasileiros e os mais diversos grupos italianos. Assim o trabalho do artista
pernambucano chega à Europa, para onde retornou nos anos 1993 e 2007.
A CEHILA (Comissão de Estudos de
História da Igreja na América Latina) foi a oportunidade que Domingos teve como
artista plástico de conhecer outras culturas da América Latina e enriquecer
doravante as suas obras (México 1990 e 1996;
Perú 1994; Guatemala 1996). "Consegui
conciliar a vida artística e religiosa. Meu apostolado sempre foi a arte",
declara Domingos.
Parte do seu acervo está
salvaguardado em São Paulo, onde participou durante 12 anos não consecutivos
(de 1988 a 2001) do Curso de Verão do CESEP realizado na Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, onde produziu e criou coletivamente os
painéis temáticos dos encontros. A arte era pensada de acordo com o tema
proposto a cada ano e decidida pelo conjunto de artistas que a produziam,
destacando presenças constantes de artistas plasticos como Adélia Carvalho,
Anderson, Helda Broilo e Fernando Marinho, entre outros. Sua contribuição era
realizada também através de intervenções artísticas como caricaturas, charges e
tirinhas. O Curso de Verão, promovido pelo CESEP (Centro Ecumênico de Serviços
à Evangelização e à Educação Popular), é um espaço de formação e partilha de experiências que acontece
anualmente, no mês de janeiro, nas dependências da PUC/SP. O curso tem o
reconhecimento do Ministério de Educação e Cultura (MEC) e aborda temáticas através
de uma metodologia participativa nas diversas oficinas oferecidas.
Domingos teve que parar de pintar
devido à perda dos movimentos da mão direita quando completou 30 anos, época em
que se descobriu portador de uma doença degenerativa rara chamada
Siringomielia. A doença é caracterizada por uma lesão cística na medula que faz
o paciente perder gradativamente os movimentos corporais. Ainda tentou
adaptar-se a trabalhar com a mão esquerda, mas essa também já se encontrava
bastante comprometida. Limitado, sem condições de expressar seu talento pela
pintura e desenhos, ele investe na escrita como uma nova maneira de se
expressar, fazendo dos fatos cotidianos sua maior fonte de inspiração. "O
processo de escrever é prazeroso, é uma arte, é compor harmonicamente",
afirma Domingos. Muito autocrítico, acrescenta: "o maior crítico do
artista deve ser ele mesmo".
A exposição sobre Domingos Sávio
tem como objetivo mostrar a trajetória
de vida e o legado desse artista pernambucano, que com uma quantidade razoável
de obras espalhadas pelo Brasil e pelo mundo encanta com sua perspicácia e
ousadia na representação sócio- cultural do Brasil. Além disso, objetiva
apresentar o lado poético, cronista e caricaturista do artista, revelados em
tirinhas, textos, composições resgatadas de seu acervo pessoal.
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